Por: Prof. Dra. Ednea Rodrigues de Albuquerque
Em tempos de Pandemia do Coronavírus, a Sétima Arte, vista em casa, foi um dos produtos culturais muito bem aproveitados! Seja pelos canais pagos, plataformas de streaming, DVD e ou Blu-ray, todos estão sendo ótimos veículos de entretenimento e aprendizagem neste período em que precisamos ficar mais em casa.
Enquanto professoras/pesquisadoras, utilizar filmes como recurso pedagógico para abordagem de conteúdos do currículo sempre foi uma prática docente bem-recebida pelos alunos. Mesmo sendo uma atividade um tanto subjetiva, ou seja, ler as entrelinhas do conteúdo proposto pelos diretores cinematográficos são interpretações bem pessoais, a narrativa deixa uma pista e lições interessantes para que assiste.
Foi nesse período tão atípico que redescobrimos um filme muito encantador, que aborda a educação especial na perspectiva da educação inclusiva. A obra cinematográfica a que nos referimos tem como título Mãos talentosas.
O cenário não poderia ser diferente daquele que, por muitos anos, presenciamos, desde a formação acadêmica, até a ascensão na vida profissional, convivendo com tantas pessoas repletas de diferenças e de singularidades: a escola!
O protagonista, Ben Carson, é um garoto negro, oriundo de uma família pobre, e um forte candidato à classe especial e ou escola especial, por apresentar dificuldades de aprendizagem e de baixo rendimento escolar nas séries iniciais.
Mas, como nada é determinante na vida das pessoas, duas coadjuvantes fizeram total diferença na vida do pequeno Ben Carson: sua professora com uma prática pedagógica humanizada, e sua mãe, uma mulher focada no potencial do filho.
Neste contexto, superar as adversidades existenciais, desde as condições econômicas, sociais, educacionais e étnico-raciais, sempre foi um exercício desafiador de sobrevivência, acerca do qual ainda estamos aprendendo a enfrentar. Para famílias com pessoa com deficiência o desafio aumenta consideravelmente.
A condição de Ben, na infância, adolescência e vida adulta, nos leva a refletir sobre a história de muitas vidas e de muitos outros estudantes que passaram pelas instituições de ensino e que estão no contexto familiar igual ao dele, rondado pela terrível hipótese do “eu não consigo”, “eu não aprendo”. Logo, um questionamento nos sobreveio: estaríamos nós contribuindo para a confirmação desta hipótese na vida de muitas outras crianças nas mesmas condições da de Ben?
Mãos talentosas nos leva a repensar nossa posição diante de tal hipótese. Cabe-nos buscar alternativas para que os fantasmas do “não consigo” e “não aprendo” sejam superados o mais rápido possível da vida das pessoas com deficiência, que são apenas diferentes das demais sem deficiência.
Não temos dúvidas. Ser diferente não implica ser melhor do que ninguém, mas, melhor para si mesmo e para o outro. Essa consciência nos permite ter um encontro com o que temos de mais sagrado: a pessoa humana e sua existência no mundo. A descoberta do potencial de cada um é a essência para o crescimento individual e coletivo.
Vale a pena conferir como o pequeno Ben enfrentou os fantasmas que lhe assombravam e, a partir disto, ajustarmos nosso modo de lidar com a hipótese do “eu não consigo” e “eu não aprendo” que paira sobre o pensamento de muitos estudantes com deficiência que chegam às escolas ou com os quais convivemos nos encontros e desencontros desta vida.